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GRUPO DE TEATRO TERAPÊUTICO

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                        João Silva subia a escadaria que dava para o Salão Nobre 

                                                do Hospital Júlio de Matos...

 

Nascido em Lisboa, João Silva desde cedo mostrou uma profunda sensibilidade poética que viria a ser vital no seu trabalho como Dramaturgo. O início do seu percurso foi marcado pelo desejo de se tornar ator, pelo que chegou a viajar até Londres para receber esta formação. Iniciou-se em teatro amador no Belém Clube e estreou-se em teatro profissional com a Casa da Comédia, em 1964. É durante este período que também se dedica ao teleteatro, que abandona pouco depois por vontade própria. Ávido leitor de obras dramatúrgicas e artísticas, cedo começou a questionar-se sobre as coisas do teatro e o porquê de este existir como arte, comunicação e meio de aproximação entre pessoas.

Em 1968, recebeu um convite para participar numa experiência cénica no Hospital Júlio de Matos; momento de viragem não só para João Silva, mas para todas as pessoas que se cruzaram com ele nesse contexto. Quando ainda se vivia sob a pena da censura, numa sociedade onde o estigma da doença mental era ainda muito vincado, João Silva, ajudado por técnicos da área da saúde e do teatro, funda o Grupo de Teatro Terapêutico (GTT). Teve a audácia de dar uma voz a quem não a tinha e de os ajudar a fazer a diferença através do Teatro.

No GTT, redefiniu o conceito de Teatro Terapêutico dirigido, onde recolhia a delicadeza crua das sensibilidades daqueles que participavam no projeto e com elas redigia peças de teatro. Cada personagem imaginada era trabalhada especificamente para atenuar a vulnerabilidade dos atores que as encarnavam. Assim, devolveu a muitas destas pessoas a capacidade de se regenerarem. Marginalizados e estigmatizados, muitas das pessoas que fizeram, fazem, parte do Grupo de Teatro Terapêutico, encontraram em João Silva um Mestre, um amigo, um pai.

Foram muitas as pessoas que tiveram a oportunidade de trabalhar com João Silva, dentro e fora do GTT, e desses encontros surgiram múltiplas ideias, textos, modos de ver e fazer teatro. No fundo, era assim que João Silva trabalhava, absorvendo o íntimo de cada um, onde encontrava as alegrias e os abismos inerentes à nossa própria condição humana. Dotado desta forma peculiar de encontrar o outro, levou cada uma dessas pessoas a confrontar-se com o poder das emoções.

Da mesma forma que era capaz de absorver o sentido único das emoções, foi também capaz de trabalhá-las para laboriosamente dedicar-se ao texto dramático, como um artífice das palavras. Destes, ressalvamos a importância de Limiar, que exprime de forma autêntica os meandros da alma e em como a nossa humanidade está forjada numa sociedade que pode ser injusta e que, ainda assim, pode ser o ponto de partida para a mudança em qualquer indivíduo. Esta talvez fosse a mensagem subliminar nos textos de João Silva: a voz de qualquer pessoa, por muito castrada ou censurada que seja, pode sempre conhecer a luz do dia.

Houve quem comparasse este «Mestre de voz doce» a uma árvore. Pois as árvores têm diversos ramos, diversas formas de tocar e entrelaçar a sua própria natureza. Porque as árvores morrem de pé, mantêm-se erguidas, perdurando na memória para lá da sua própria vida.

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